Para explicar o que é epilepsia e dar dicas para pessoas com a doença manterem uma rotina saudável, conversamos com a nutricionista Danielle Toledo, especialista em Nutrição Clínica pela UFRJ, Nutrição Funcional pelo Centro Valéria Paschoal (VP) e em Medicina do Estilo de Vida pelo Instituto de Ensino Albert Einstein.
Danielle Toledo frisou, entre muitas questões, que uma alimentação equilibrada pode contribuir para evitar crises, falou quais são os alimentos que devem ser evitados, e explicou o que é a dieta cetogênica, que pode desempenhar um papel importante no controle da doença.
- O que é epilepsia?
É um distúrbio neurológico caracterizado pelo mau funcionamento temporário do cérebro, causado pela emissão incorreta de sinais, descargas ou impulsos elétricos pelos neurônios (células nervosas) que atuam de forma irregular e intensa.
Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Essas crises podem variar em intensidade e tipo, afetando a consciência, os movimentos, as emoções e as funções corporais.
- Como é o quadro da doença no Brasil?
Estima-se que 3 milhões de paciente, cerca de 2% da população, são acometidas pela doença. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza atendimento completo e gratuito para a epilepsia, abrangendo desde o diagnóstico até o acompanhamento e tratamento, incluindo a medicação. O cuidado inicial é, preferencialmente, realizado na atenção primária, por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS) presentes em todo o território nacional.
- A dieta pode ajudar no tratamento da epilepsia? Quais são os alimentos mais indicados para quem tem a doença?
Desde o início do século passado, observou-se que pacientes epilépticos apresentavam melhor controle de suas crises quando em jejum ou na presença de acidose metabólica induzida pelo jejum e em 1921, o pesquisador médico americano Russell Morse Wilderpropôs então uma dieta que simulasse as alterações bioquímicas associadas aos períodos de jejum, conhecida como dieta cetogênica.
A dieta cetogenica pode desempenhar um papel importante no controle da epilepsia, especialmente em casos de epilepsia refratária (resistente a medicamentos) ou nos pacientes em que cirurgia não é possível. Sua adoção pode resultar na redução no número de crises, melhora do neurodesenvolvimento e redução da frequência e a intensidade das crises. Espera-se que esta terapia seja eficaz para, pelo menos, um terço dos pacientes e deve ser feita sob a supervisão de um nutricionista.
A dieta cetogênica é um plano alimentar rico, que contem alta porcentagem de gordura e baixa porcentagem de proteínas e carboidratos: cerca de 90% e 10%, respectivamente. Ela estimula a produção de corpos cetônicos, que ajudam a estabilizar a atividade elétrica do cérebro. Apesar de ser uma dieta especial, ela deve atender aos princípios gerais da nutrição, oferecendo energia, proteínas, minerais e vitaminas, mesmo que por meio de suplementos, visando o desenvolvimento e a manutenção das condições fisiológicas do paciente.
- Existem alimentos que podem estimular as crises e que devem ser evitados? Quais são eles?
Alguns alimentos podem estimular ou aumentar o risco de crises epilépticas em pessoas predispostas. Isso pode acontecer por diferentes mecanismos, como desbalanço na atividade elétrica do cérebro, deficiência de nutrientes essenciais e irritação do sistema nervoso.
Alimentos ricos em açúcares e carboidratos refinados. Exemplos: açúcar branco, mel, xarope de glicose, pães, massas, arroz refinado, bolos, biscoitos, doces industrializados, refrigerantes e sucos industrializados podem causar picos e quedas rápidas na glicemia, afetando a estabilidade neuronal.
Glutamato monossódico e aditivos alimentares, como os encontrados em alimentos ultraprocessados (sopas instantâneas, temperos prontos, salgadinhos), molhos industrializados (shoyu, barbecue), fast food e embutidos com conservantes podem excitar excessivamente os neurônios, aumentando a chance de descargas elétricas anormais.
A cafeína e estimulantes presentes no café, chá preto, chá mate, chá verde, refrigerantes de cola, energéticos, chocolate ao leite e cacau em excesso podem aumentar a excitabilidade do sistema nervoso, tornando-o mais propenso a crises.
O álcool e bebidas fermentadas, como kombucha e outras interferem nos neurotransmissores e podem reduzir a eficácia dos medicamentos anticonvulsivantes.
- Quais as outras dicas que uma pessoa com epilepsia deve seguir?
Pessoas com epilepsia podem levar uma vida plena, estudando, trabalhando, se relacionando e construindo famílias, desde que sigam o tratamento corretamente e adotem hábitos saudáveis.
O tratamento deve ser contínuo, e o acompanhamento médico é indispensável para controlar a condição e preservar a qualidade de vida. Compreender e aceitar a epilepsia é um passo fundamental.
Embora a doença possa trazer desafios, é importante não permitir que ela defina a vida do indivíduo.
Mais dicas de Danielle Toledo que podem ajudar uma pessoa com epilepsia:
- Registre suas crises:anote a frequência, duração e circunstâncias das crises para ajudar no acompanhamento médico. Aplicativos podem facilitar esse monitoramento.
- Mantenha contato com seu médico: relate sintomas novos e esclareça dúvidas regularmente. Nunca altere a medicação por conta própria.
- Adote uma rotina saudável:exercícios físicos moderados, alimentação equilibrada e bons hábitos de sono ajudam no controle das crises.
- Utilize tecnologia a seu favor: dispositivos como smartwatches e alarmes podem auxiliar na segurança e no monitoramento da condição.
- Busque apoio:participar de grupos de suporte pode fortalecer o bem-estar emocional e reduzir a sensação de isolamento.
- Evite gatilhos: o estresse, a privação do sono, o consumo excessivo de cafeína e álcool podem aumentar o risco de crises.
- Adapte seu ambiente:utilize móveis estáveis, evite pisos escorregadios e adote medidas de segurança para reduzir riscos em caso de crise.
- Carregue identificação médica: pulseiras ou cartões informando sobre a epilepsia e os contatos de emergência podem ser fundamentais em situações imprevistas.
Fonte: Globo